A propósito do Dia do Pai os meus filhos ofereceram-me o
livro “O Último Salazarista – A outra
Face de Américo Thomaz” de Orlando Raimundo.
Fiquei muito feliz com a oferta, pois o Estado Novo, embora interessando-me
menos que a revolução de 1383, que abriu caminho à burguesia, e, em última analise, deu voz aos Orlandos Raimundos deste mundo, corresponde à época
da minha formação, posto que nasci em 1953.
Começa assim o capítulo introdutório do senhor Orlando
Raimundo:
«Tal como acontece com
o nome de Marcello Caetano, com dois ll, o apelido de Américo Thomaz, com th e z,
sugere uma ascendência aristocrática que nunca existiu. A utilização da grafia
inglesa em todos os documentos oficiais, primeiro requerida e depois exigida
pelo próprio, é uma tentativa de dissimular a origem humilde, de que se
envergonha e que sempre procurou esconder»
Ainda que o almirante Américo Tomás não tenha nunca despertado a minha admiração pessoal, tenho sempre imensa pena quando num escritor, sobretudo se
candidato a historiador, o preconceito ideológico tolhe o raciocínio ou a
exposição da verdade histórica, e o leva a fazer insinuações torpes que tresandam à pusilanimidade
dos caracteres cobardes.
Antes do Formulário Ortográfico de 1943, as palavras
derivadas do grego grafadas com a letra Ө (teta) escreviam-se
com th: Themudo, Esther, Thadeu, Theóphilo,
athmosphera e… Thomaz, ou Thomás.
O Novo Dicionário da Língua Portuguesa de Cândido de Figueiredo,
em 1913, grafava Thomás e Tomás. Entretanto, as Bases III e IV do referido Formulário Ortográfico de 1943 eliminaram o h.
Assim, o apelido de família constante do registo de nascimento, e
consequentemente da Cédula pessoal e do Bilhete de Identidade de Américo de
Deus Rodrigues Thomaz, foram admissivelmente grafadas com h, uma vez que anteriores a 1943.
Quanto ao Z, sabe-se que nas palavras terminadas em az o a
é sempre pronunciado aberto, como em, capataz, sagaz, primaz, perspicaz; nas
terminadas em as, para que o a seja pronunciado aberto, é necessário
acento agudo no a, como em ananás,
aliás e aguarrás.
Assim, Ferraz, Forjaz, Monsaraz, Vaz, Queiroz, Berlioz,
Badajoz, não precisam de acento para terem a vogal final aberta (ao contrário de
Algés que se pronunciaria Algês se terminasse em z). Daí muita gente, ainda nos
tempos actuais, decidir aplicar a grafia permitida e aceite Tomaz. Quanto à
pretensa grafia inglesa, ela nunca foi Thomaz,
com a vogal final tornada oxítona (aberta) pelo z, mas sim Thomas, com o a
final átono (fechado).
Por último, esta pretensa veleidade aristocrática não se coaduna
muito com a personalidade e origem humilde de Américo Thomaz, que ele nunca
escondeu, ao contrário do que reclama o senhor Orlando Raimundo. Seu pai, António
Rodrigues Thomaz, já tinha o seu nome igualmente grafado Thomaz, embora
fosse criado de descendentes de João Rodrigues de Mattos e Silva, senhor da
Casa Grande, em Abrantes, pelo que a grafia do nome e as veleidades genealógicas
existirão apenas na cabeça deformada do autor do livro “O Último Salazarista – A outra Face de Américo Thomaz”, que talvez
mudasse de bom grado o seu próprio nome para «Orllando Raimmundo».
Vila Franca de Xira, 26 de Março de 2018
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